quinta-feira, agosto 31, 2006

Cada lugar teu...

"Nos saudosos campos do Mondego" vejo-te e revejo-me... Olho para ti, e tu, para dentro de mim e constroís-me... como sempre o fizeste, como sempre o farás...
Percorrendo-te nas ténues linhas da memória vou-me perdendo entre os primeiros acordes na Sé, e passeias-me...
Mostras-me, na alta, toda a tua sumptuosidade e dizes:
"Vês como sou austera?"
Levas me ao jardim da Sereia e reclamas:
"Esta luz é minha..."
Ao descansar nesse penedo que tanto de ti diz... Oh Saudade! explicas-me:
"É aqui que o meu canto se eleva, porque aqui é, que o meu destino se traça..."
No Couraça observamos o teu envelhecido pulmão e suspiras:
"Estou cansada..."
Ao entrarmos em Santa Cruz pousas a minha mão no caixão de pedra retorcida e oiço-te:
"Este mui nobre cavaleiro foi o meu primeiro amor..."
Ao atravessarmos a ponte relembras-me que, do lado direito está a inocência da primeira festa e do esquerdo o álcool de umas tantas mais...
Entramos no convento de Santa Cruz e prestamos homenagem a essa Isabel, que também é tua...
E, finalmente entro no Jardim das Lágrimas, olho para a minha esquerda e tu não estás...
Percebo então o porquê... a quinta não é tua... TU és a quinta...
És água que choras desta fonte;
És a pedra gasta que se rola;
És triste, és sombria, és canto porque és fado...
Porque é esse o teu destino - encantar...
Acordo, abro a gaveta dos sonhos e recorto-te... porque tu és minha... e eu? Eu sou toda tua...
Ary

quarta-feira, agosto 30, 2006

A inquietação dos estados ocidentais

Propulsionados pela tecnologia, caminhamos a um velocidade vertiginosa para uma sociedade global, de onde resulta um choque de civilizações que tem a sua face mais negra num problema que, não sendo recente, mas quando ampliado à escala global, aterroriza toda a sociedade ocidental: o terrorismo.
Face a este temor, os Estados Ocidentais optaram pela via militar: a intervenção pela força. Com isso conseguem atacar o lado mais visível do problema, no entanto, as organizações terroristas continuam a actuar ainda que fragilizadas (vide caso do Iraque e do Afeganistão). O uso da força não tem garantido um maior nível de segurança. Há que reflectir sobre isto.
Analisando as organizações terroristas que pululam pelo Médio Oriente, constata-se que elas perderam, há muito, a sua identidade de guerrilheiros desorganizados, para começarem a constituir pequenas empresas-estados que se infiltraram no quotidiano dos habitantes tanto através do abastecimento de alimentos e medicamentos como na criação de infra-estruturas base tais como centros de acolhimento, escolas, farmácias, hospitais, etc. Como resultado granjeiam legitimidade junto da população e daqui advém algo de mais perigoso: formam uma base de apoio. Israel, na recente guerra contra o Hezbollah, ainda que embriagado no código de Hamurabi, percebeu-o, e mostrou-o quando arrasou escolas e centros hospitalares nos arredores do Líbano que eram pertença da organização terrorista que combatiam. No entanto, se não participar na reconstrução do que destruiu, o Hezbollah não terá ficado enfraquecido, antes pelo contrário, dado que reforça a sua legitimidade afirmando-se como defensores do Povo.
É a pobreza, a falta de condições básicas e a falta de infra-estruturas que permite a proliferação e o enraizamento de células terroristas na sociedade civil. É aqui que deves largar as tuas bombas. Não se deve atacar o efeito, antes a causa. Sem base de apoio as organizações terroristas caem por si só, e é isto que as Sociedades Ocidentais se recusam a ver.
Na linha deste argumento surge outro, mais tácito, mas de importância idêntica: o fanatismo religioso. Esta causa, sendo a mais difícil de combater, não é, no entanto, impossível de o fazer. Note-se, a sociedade ocidental (incluindo aqui a Austrália e o Japão) é aquela que apresenta um menor índice de religiosidade e como tal de fanatismo religioso. Tal deve-se, essencialmente, à influência do superior nível de vida, mas também à educação e cultura que estas sociedades transportam. Assim, um fortalecimento do nível de vida – criação de hospitais, centros de acolhimento, etc. – aliado a uma maior oferta de educação e cultura – impulsionando a implementação de escolas, universidades, bibliotecas, etc. – são os melhores meios de que se dispõe para combater o fanatismo terrorista.
Por ultimo, típico dos países que servem de quartel-general a este tipo de organizações é a sua forma de governo totalitário, causa esta também influente no choque de civilizações. Aqui, há que lembrar a história europeia e japonesa dos últimos cinquenta anos, para recordar que também o nosso solo foi fértil para ver florescer regimes totalitários. Os Estados Unidos, atentos a este factor, fizeram da guerra no Iraque a guerra da Democracia, esquecendo se no entanto que uma democracia sustentável não pode ser imposta. Para tal há que oferecer formação à população para ela própria criar mecanismos de auto libertação, adquirindo nesse processo estofo para estruturar a Democracia. Este pode ser, também, um passo forte na extinção do terrorismo.
Em jeito de conclusão, parece me importante sublinhar que o caminho para o fim do terrorismo passa não pelas armas, antes pela educação, pela cultura e pela melhoria do nível de vida. É aqui que deves largar as tuas bombas.

Saudações Académicas
Adriano

segunda-feira, agosto 28, 2006

Contra mim falo

Eu não vou a manifestações!
Contra mim falo!
Eu não vou a todas as Magnas!
Contra mim falo!
Eu não leio todos os programas que concorrem à DG/AAC!
Contra mim falo!
Eu coopero com a máquina que critico, alimentando-a!
Contra mim falo!
Eu não me empenho para ajudar a academia!
Contra mim falo!
Eu não conheço a minha casa, os meus dirigentes!
Contra mim falo!
Eu ponho os meus interesses pessoais à frente da academia!
Contra mim falo!
Somos um rebanho, não de ovelhas, mas de inércia hipócrita!
Contra ti grito!

Viriato

domingo, agosto 27, 2006

Carta aberta ao meu amigo e colega estudante

O que te peço e que de ti espero.

É tristeza que me invade quando olho para nós estudantes, e para esta velha academia a que nos orgulhamos de pertencer, e já não vejo quem fomos, e já na nossa academia não vejo o que ela representou, e é essa tristeza que me leva hoje a escrever-te a presente carta.
Se soubesses, a enorme alegria que me preside quando numa noite de serenata me junto a ti pelas ruas e vielas da nossa cidade, eu e tu envergando o traje académico e com o orgulho todo do mundo estampado no rosto, conscientes de que fazemos parte desse todo tão grande, tão plural e tão bonito…
Contudo, sinto-nos separados quando tão boas noites terminam, e é aí que a tristeza vem e em mim se acomoda, pois denoto que noutras situações, noutros contextos, estivemos outrora juntos, e penso que era suposto continuarmos lado a lado, quando na realidade já não estamos.
Inquieta-me sobretudo o facto de sentir que actualmente não existe uma união ideológica forte, de não lutarmos por causas, ou de constatar que cada vez menos temos causas. Assusta-me o facto de não debatermos ideias, de não participarmos das Assembleias Magnas, de não nos preocuparmos com a nossa Academia e de passarmos o nosso curso alheios ao seu rumo.
Não estaremos a votar a Associação Académica de Coimbra ao abandono, caro colega e amigo?
Tudo isto foi o que nos levou a abrir este blog, através do qual pretendemos restaurar o espírito académico (sobretudo, como atrás já tive oportunidade de te dizer, no plano politico-cultural, onde queremos voltar a ter peso – independentemente de cores e partidos – a nossa cor partidária é o negro das capas), estimular e promover o debate de ideias e ideais, construir de novo uma consciência colectiva, contribuir para a tomada de decisões, mas também, quando necessário, criticar decisões e posições, relembrar quem fomos, constatar quem somos, e discutir, planear e cumprir quem queremos ser.
São estes os desafios que te dirijo, são estes os objectivos que te peço que nos ajudes a conseguir realizar, e de ti espero opiniões, criticas e que nos acompanhes em debates, e futuras lutas pela velha Academia Coimbrã.

Cordiais Cumprimentos
Hilário

Introdução

Partindo da premissa que qualquer viagem, por maior que seja, começa sempre com um primeiro passo, parece-nos importante iniciar este projecto expondo os nossos objectivos, crenças e motivações.
Alicerçado no nosso pluralismo de ideias e influências, pretendemos aqui estabelecer um campo de debate que fomente a livre troca de opiniões com a finalidade de reavivar e fortalecer o espírito intervencionista que sempre caracterizou os estudantes de Coimbra.
Como a identidade coimbrã não se forjou apenas nas lutas académicas, achamos essencial vocacionar este espaço também para a recuperação e preservação das raízes culturais que sustentam a antiquíssima tradição académica.
Tendo em vista estes propósitos e, contando com o idealismo de Adriano, o pragmatismo de Aristides, a sensibilidade de Ary, a fé de Hilário, a mordacidade de Viriato e a tenacidade de Zeca, acreditamos poder contribuir, ainda que modestamente, para um reacendimento do fraterno espírito académico que sempre primou na mui nobre Academia coimbrã.
Sabendo que se “Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce”, cautelosos mas entusiasmados, consideramos este espaço aberto.


Saudações Académicas
Adriano, Aristides, Ary, Hilário, Viriato e Zeca
Peritoneal Mesothelioma
Peritoneal Mesothelioma