quarta-feira, novembro 29, 2006

O candidato Capa Negra

Corria o ano de mil novecentos e troca o passo, e, na velha academia coimbrã, era novamente altura de ir a votos e de escolher um novo líder, pois o anterior não se queria voltar a candidatar.
Capa Negra, um sujeito discreto, meio desconhecido lá da academia, a princípio não sabia, mas depois de muito pensar, lá se decidiu, "Vou lutar! Vou-me candidatar".
Os outros que a par dele se candidataram, a candidatura já há muito estava decidida. Apesar de não saberem bem para que iam, ficava muito bem no curriculum, e não havia nada para pensar, era mesmo para avançar! Sem dúvidas, sem medos ou receios, sem ideias nem ideais, com meios mas sem mais, e até um havia que nem sabia ler nem escrever.
Eram eles o Rosinha, o Laranjinha, o gajo das ferramentas, cujo nome não me consigo lembrar, e um outro qualquer coisa Partido, mas este último não era o candidato mais popular.
Todos eles sabiam já há bastante tempo que se iriam por esta altura encontrar, e quando viram o Capa Negra avançar, troçaram em coro e riram até se fartar.
Capa Negra ignorou isso, avançou em linha recta desde o início, estabeleceu a meta que com o seu projecto pretendia alcançar, e segundo o que acreditava, essa meta coincidia exactamente com o que aquela academia necessitava.
Ao contrário, os outros candidatos explicavam a todos os que passavam, de forma tão erudita que nem sabiam o que diziam, e tão chata que deixavam qualquer pessoa danada, que os seus projectos eram tão importantes como quase nada. O que era bom era que eles para lá fossem, isso é que interessava, e quanto à academia e aos estudantes... mas quem é que com isso ainda se importava? Votem em mim, eu dou-vos um aperto de mão, e um dia destes, quando for ministro, mando-vos um abraço pela televisão.
Capa Negra escolheu para os respectivos cargos as pessoas que moral e intelectualmente mais valiam. Os outros candidatos escolheram as pessoas que mais votos lhes valiam.
Chegada o dia das eleições, Capa Negra reuniu-se com os amigos em sua casa. Não confessava, mas acreditava ainda num milagre tão grande como os estudantes escolherem o melhor para eles.
Os outros candidatos reuniram-se num restaurante para comemorar.
Capa Negra ficou em último lugar, ganhou um candidato que oferecia mais brindes do que uma empresa farmacêutica aos amigos que pusessem pessoal a votar.
Na Rádio Universidade de Coimbra, quando foi entrevistado, Capa Negra confessou que estava desiludido pelo facto dos estudantes não terem no seu projecto acreditado, e que ainda assim muita fé neles e nesta academia depositava.
O homem da noite, o vencedor das eleições, já embriagado ao ser entrevistado, afirmou que desde sempre soubera qua iria ganhar as eleições, e que ia cumprir o que tinha prometido, assim que tomasse posse. Na sala de estudo seria um varão erguido, e vários sofás lá seriam colocados, e a sala seria após as obras baptizada, e levaria uma placa à entrada onde se iria ler. "Aqui, onde antes se estudava, foi para os amigos do presidente implantada uma sala para a cowboiada".




Hilário

4 Intervenções

Blogger Unknown dixit

o teu melhor post até agora.
é uma grande pena o rumo que esta academia tomou. Nós somos jovens, se o mundo se poderia tornar melhor, era a partir daqui, a partir de nós. tudo isto só mostra o que as pessoas são e o que nos espera lá fora, mas multiplicado por 1000.

12:15  
Anonymous Anónimo dixit

Obrigado Margarida.
Tenho que concordar contigo... Mas tenho fé, e acredito que as coisas hão-de mudar. Um dia há-de surgir uma lista que tenha como uma das principais lutas o cacique, e há-de comprometer-se a não cacicar. Sei que há listas que não cacicam, porém são as mais "pequenas", e penso que isso leva à confusão entre não cacicar por opção e por valorização da dignidade própria, ou por falta de meios. Mas acredito que o cacique tenha os dias contados. Já começa a haver muita resistência ao cacique. Um dia há-de tornar-se contraproducente...

Cordiais Cumprimentos
Hilário

16:45  
Blogger Unknown dixit

duvido. Porque há sempre pessoas que querem lucrar com as eleiçoes. caciqueiros e cacicados.

22:28  
Anonymous Anónimo dixit

Sim, é verdade... Mas são em maior número aqueles que só têm prejuízo pelo facto de as eleições acontecerem nestas condições...

Cordiais Cumprimentos
Hilário

10:42  

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