A inquietação dos estados ocidentais
Propulsionados pela tecnologia, caminhamos a um velocidade vertiginosa para uma sociedade global, de onde resulta um choque de civilizações que tem a sua face mais negra num problema que, não sendo recente, mas quando ampliado à escala global, aterroriza toda a sociedade ocidental: o terrorismo.
Face a este temor, os Estados Ocidentais optaram pela via militar: a intervenção pela força. Com isso conseguem atacar o lado mais visível do problema, no entanto, as organizações terroristas continuam a actuar ainda que fragilizadas (vide caso do Iraque e do Afeganistão). O uso da força não tem garantido um maior nível de segurança. Há que reflectir sobre isto.
Analisando as organizações terroristas que pululam pelo Médio Oriente, constata-se que elas perderam, há muito, a sua identidade de guerrilheiros desorganizados, para começarem a constituir pequenas empresas-estados que se infiltraram no quotidiano dos habitantes tanto através do abastecimento de alimentos e medicamentos como na criação de infra-estruturas base tais como centros de acolhimento, escolas, farmácias, hospitais, etc. Como resultado granjeiam legitimidade junto da população e daqui advém algo de mais perigoso: formam uma base de apoio. Israel, na recente guerra contra o Hezbollah, ainda que embriagado no código de Hamurabi, percebeu-o, e mostrou-o quando arrasou escolas e centros hospitalares nos arredores do Líbano que eram pertença da organização terrorista que combatiam. No entanto, se não participar na reconstrução do que destruiu, o Hezbollah não terá ficado enfraquecido, antes pelo contrário, dado que reforça a sua legitimidade afirmando-se como defensores do Povo.
É a pobreza, a falta de condições básicas e a falta de infra-estruturas que permite a proliferação e o enraizamento de células terroristas na sociedade civil. É aqui que deves largar as tuas bombas. Não se deve atacar o efeito, antes a causa. Sem base de apoio as organizações terroristas caem por si só, e é isto que as Sociedades Ocidentais se recusam a ver.
Na linha deste argumento surge outro, mais tácito, mas de importância idêntica: o fanatismo religioso. Esta causa, sendo a mais difícil de combater, não é, no entanto, impossível de o fazer. Note-se, a sociedade ocidental (incluindo aqui a Austrália e o Japão) é aquela que apresenta um menor índice de religiosidade e como tal de fanatismo religioso. Tal deve-se, essencialmente, à influência do superior nível de vida, mas também à educação e cultura que estas sociedades transportam. Assim, um fortalecimento do nível de vida – criação de hospitais, centros de acolhimento, etc. – aliado a uma maior oferta de educação e cultura – impulsionando a implementação de escolas, universidades, bibliotecas, etc. – são os melhores meios de que se dispõe para combater o fanatismo terrorista.
Por ultimo, típico dos países que servem de quartel-general a este tipo de organizações é a sua forma de governo totalitário, causa esta também influente no choque de civilizações. Aqui, há que lembrar a história europeia e japonesa dos últimos cinquenta anos, para recordar que também o nosso solo foi fértil para ver florescer regimes totalitários. Os Estados Unidos, atentos a este factor, fizeram da guerra no Iraque a guerra da Democracia, esquecendo se no entanto que uma democracia sustentável não pode ser imposta. Para tal há que oferecer formação à população para ela própria criar mecanismos de auto libertação, adquirindo nesse processo estofo para estruturar a Democracia. Este pode ser, também, um passo forte na extinção do terrorismo.
Em jeito de conclusão, parece me importante sublinhar que o caminho para o fim do terrorismo passa não pelas armas, antes pela educação, pela cultura e pela melhoria do nível de vida. É aqui que deves largar as tuas bombas.
Face a este temor, os Estados Ocidentais optaram pela via militar: a intervenção pela força. Com isso conseguem atacar o lado mais visível do problema, no entanto, as organizações terroristas continuam a actuar ainda que fragilizadas (vide caso do Iraque e do Afeganistão). O uso da força não tem garantido um maior nível de segurança. Há que reflectir sobre isto.
Analisando as organizações terroristas que pululam pelo Médio Oriente, constata-se que elas perderam, há muito, a sua identidade de guerrilheiros desorganizados, para começarem a constituir pequenas empresas-estados que se infiltraram no quotidiano dos habitantes tanto através do abastecimento de alimentos e medicamentos como na criação de infra-estruturas base tais como centros de acolhimento, escolas, farmácias, hospitais, etc. Como resultado granjeiam legitimidade junto da população e daqui advém algo de mais perigoso: formam uma base de apoio. Israel, na recente guerra contra o Hezbollah, ainda que embriagado no código de Hamurabi, percebeu-o, e mostrou-o quando arrasou escolas e centros hospitalares nos arredores do Líbano que eram pertença da organização terrorista que combatiam. No entanto, se não participar na reconstrução do que destruiu, o Hezbollah não terá ficado enfraquecido, antes pelo contrário, dado que reforça a sua legitimidade afirmando-se como defensores do Povo.
É a pobreza, a falta de condições básicas e a falta de infra-estruturas que permite a proliferação e o enraizamento de células terroristas na sociedade civil. É aqui que deves largar as tuas bombas. Não se deve atacar o efeito, antes a causa. Sem base de apoio as organizações terroristas caem por si só, e é isto que as Sociedades Ocidentais se recusam a ver.
Na linha deste argumento surge outro, mais tácito, mas de importância idêntica: o fanatismo religioso. Esta causa, sendo a mais difícil de combater, não é, no entanto, impossível de o fazer. Note-se, a sociedade ocidental (incluindo aqui a Austrália e o Japão) é aquela que apresenta um menor índice de religiosidade e como tal de fanatismo religioso. Tal deve-se, essencialmente, à influência do superior nível de vida, mas também à educação e cultura que estas sociedades transportam. Assim, um fortalecimento do nível de vida – criação de hospitais, centros de acolhimento, etc. – aliado a uma maior oferta de educação e cultura – impulsionando a implementação de escolas, universidades, bibliotecas, etc. – são os melhores meios de que se dispõe para combater o fanatismo terrorista.
Por ultimo, típico dos países que servem de quartel-general a este tipo de organizações é a sua forma de governo totalitário, causa esta também influente no choque de civilizações. Aqui, há que lembrar a história europeia e japonesa dos últimos cinquenta anos, para recordar que também o nosso solo foi fértil para ver florescer regimes totalitários. Os Estados Unidos, atentos a este factor, fizeram da guerra no Iraque a guerra da Democracia, esquecendo se no entanto que uma democracia sustentável não pode ser imposta. Para tal há que oferecer formação à população para ela própria criar mecanismos de auto libertação, adquirindo nesse processo estofo para estruturar a Democracia. Este pode ser, também, um passo forte na extinção do terrorismo.
Em jeito de conclusão, parece me importante sublinhar que o caminho para o fim do terrorismo passa não pelas armas, antes pela educação, pela cultura e pela melhoria do nível de vida. É aqui que deves largar as tuas bombas.
Saudações Académicas
Adriano
3 Intervenções
Meu caro amigo, já iniciamos aqui a discussão deste assunto, que espero que continuemos um dia destes numa mesa de café. Continuarei a questinuar a tua teoria (como já te disse, muito bem construida) e se ela será praticavel. Penso que sim, embora a longo prazo, e o que me pergunto, é como se combaterá, ou antes como se poderá prevenir o terrorismo a médio e curto prazo, não esquecendo que este se está a enraizar cada vez mais, e que quanto mais força ganhar mais dificil será de combater. A guerra não é seguramente o caminho, como me costumas afiançar, argumentando com frases pacifistas de que muito gosto, mas duvido da completa dispensibilidade dos meios militares, na defesa dos Estados mais afectados pelo terrorismo. Não podemos ser alvos (ainda por cima civis) até que os terroristas tomem consciência da crueldade dos seus actos. Embora saiba e concorde, que as guerras que se fizeram até agora, e já lá vão cinco anos desde o maior ataque terrorista que a História alguma vez conheceu, tenham sido completamente desmesurados e ineficazes, e que apenas pioraram o futuro que podemos prespectivar. Como já são horas impróprias, deixarei esta discussão para outra altura.
De resto, quero apenas dizer que há dias encontrei um blog que me agradou bastante (passo a publicidade: http://causa-nossa.blogspot.com/). Nele encontrei um artigo de um Professor da nossa Academia, nomeadamente da Faculdade de Direito, que tinha alguma coisa a ver com o teu post. Por isso vou deixá-lo aqui.
Com os melhores cumprimentos,
Álvaro
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Cuide-se Professor!
«Por mim não tenho a pretensão de ter verdades absolutas, ainda que me incline, talvez por reflexo de jurista, para a posição que entende que a intervenção no Iraque, ainda que tenha livrado o Mundo de uma tirania abominável, prejudicou a guerra contra o terrorismo e alimentou este.»
O Prof. André Gonçalves Pereira que se acautele. Depois deste seu clarividente artigo de hoje no Público sobre a guerra do Iraque, que só peca por tardio, nada -- nem a sua indiscutível independência intelectual, nem o seu conhecido conservadorismo político, nem o facto de ter sido Ministro dos Negócios Estrangeiros de um Governo da AD -- o vai salvar da sanha impiedosa da "patrulha ideológica" que entre nós representa o Pentágono e se encontra encarregada de punir toda a crítica à chamada “guerra ao terrorismo” de George Bush. É pura é simplesmente proibido dizer que a invasão do Iraque foi ilegal e ilegítima, que os pretextos para ela eram falsos, e – ó heresia suprema – dizer que ela nada teve com a luta contra o terrorismo, tendo inclusivamente prejudicado essa luta e alimentado o próprio terrorismo!
Cuide-se Professor!
[Publicado por vital moreira] 1.4.04
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Post publicado pelo Professor Vital Moreira no blog
http://causa-nossa.blogspot.com/
Peço desculpa se trago para aqui temas que só reflexamente estão relacionados com este assunto, mas li à pouco tempo um livro, daqueles que já não se encontram à venda, "Os Contos Do Gin-Tonic", de Mário-Henrique Leiria, e um dos contos tinha como título Discussão, e rezava assim:
" - Desconfio que a democrecia não resulta. Juntam-se astronautas, bodes, camponesas, galinhas, matemáticos e virgens loucas e dão-se a todos os mesmos direitos. Isso parece-me um erro cósmico. Desculpa.
Desculpei mas fiquei ofendido. Que a democracia era aquilo mesmo, e ainda com conversa fiada como brinde, isso sabia eu. Que me viessem dizer, era outra coisa. Fiquei ainda mais ofendido, até porque não gosto de erros cósmicos. Acho um snobismo.
- Eu sou democrático - rugi entre dentes, como resposta. -Tenho amigos no exílio, todos democráticos. Foram para lá por serem democráticos. É um sacrifício que poucos fazem, ir para o exílio e ser professor universitário exilado e democrático. Eras capaz de fazer isso?
- Não sou democrático.
Não havia resposta a dar. Nenhuma. Ele não era democrático, não sabia de democracia.
Eu sim, sou democrático, até já quis ir à América, que me afirmaram que lá é que é a democracia.
Recusaram-me o visto no passaporte, disseram que eu era comunista! Viram isto!?"
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Não revejo nos Estados Unidos a democracia suprema. Vejo sim um estado em que o voto é livre, mas em que não se tem de obter o maior número de votos para se ganhar, antes a vitória em maior numero de estados.
Pessoalmente, simpatizo mais com as democracias europeias, onde a liberdade de associação política e de expressão oral são verdadeiramente liberais, situação que não se verifica em terras americanas.
De qualquer forma, assumo me como democrata e creio que apenas esta forma de governo pode responder às necessidades de um povo.
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