domingo, fevereiro 25, 2007

Obrigado




"A Magia de uma noite"

"Volto agora a falar-vos de Zeca Afonso e da sua importância para este movimento de cantores comprometidos com o seu tempo e com os destinos do seu país.
O facto de ter vivido em Angola e Moçambique longos períodos da sua vida permitiu-lhe combinar a memória da música popular portuguesa com ritmos e sonoridades que os portugueses conheciam mal. Essa combinação musical de duas culturas, também visível num cantor-autor como Fausto, nascido em Nova Lisboa (actualmente Huambo), contribuiu para acentuar a grande originalidade da sua obra.
Zeca, como já vos disse, não possuía qualquer formação musical, mas nem por isso deixou de ser um compositor genial e um extraordinário intérprete.
Aparentemente distráido, pouco valor dava ao lugar em que actuava quando havia mais cantores em cima do palco, e havia sempre vários. O que o preocupava era fazer passar a mensagem e conseguir comunicar em condições com o seu público. Hoje, não faltará quem chame a esta atitude "amadorismo", mas, para a nossa geração de cantores comprometidos com a vida e o futuro de Portugal, ser amador, não receber "cachet" e não exigir nome destacado no cartaz era uma forma de estar na vida, obedecendo a valores, princípios e causas.
Ninguém, mesmo que o merecesse, queria ser vedeta, corria atrás da fama e procurava a notoriedade dada pelas notícias dos jornais. Tínhamos uma missão que, além de cultural, também era política, e sentíamos orgulho em poder cumpri-la da melhor maneira, precisando de muito pouco para a concretizar. Bastava-nos uma viola, um papel com a letra (no caso, muito frequente, de não a sabermos de cor) e um microfone ligado a uma aparelhagem de fraca qualidade para pormos milhares de pessoas a cantarem connosco, partilhando os nossos sonhos e os nossos ideais. As boas condições técnicas e acústicas viriam muito mais tarde.
Este género de atitude perante o mundo do espectáculo é hoje impensável e, por um lado, ainda bem que assim acontece. É sinal de que há liberdade e de que, em liberdade, se apostou no profissonalismo e na qualidade estética. A nossa estética, tal como as condições de actuação, eramreconhecidamente pobres pois a grande prioridade que nos movia e mobilizava era fazer chegar ao maior número de pessoas o que tinhamos para lhes dizer. De resto, Jósé Afonso sempre se recusou a chamar "espectáculos" às nossas actuações, preferindo designá-las por "sessões populares". Era esse o seu modo de estar na vida e no palco.
[...]
O cantor inquieto, nervoso, em regra preocupado com doenças quase sempre imaginárias, que gostava de ouvir anedotas e se recusava a alinhar na maliência que caracteriza os portugueses, era o melhor e o mais inspirado de todos os criadores que decidiram cultivar este género artístico.
Eu sei que esta descrição vos parece no minímo estranha se comparada com a realidade dos dias de hoje. Mas era, de facto, assim que a coisas se passavam. Vinha um convite, outro convite, combinava-se uma viagem, chegava-se a uma sala fria e com más condições acústicas e actuava-se para quem lá estava.
Unia-nos o companheirismo, a camaradagem, a amizade e a partilha de ideias comuns. Não queríamos enriquecer a cantar, nem ter o nome a letras de ouro em placas de homenagem. Queríamos ser úteis e eficazes, não permitindo que questões secundárias nos dividissem ou afastassem.
[...]
Por vezes, escrevia-se à tarde uma canção que se cantava nessa mesma noite, condenando o golpe de Pinochet no Chile ou o assassinato do dirigente do PAIGC Amílcar Cabral. Às vezes, perdi-se o papelcom o etxto escrito e improvisava-se. Dito assim, tudo parece demasiado ligeiro e impensado. Mas não era. Era assim que esse tempo nos exigia que fossêmos e que actuássemos.
Em Abril de 1973, eu e José Afonso cantámos no dia de abertura do Congresso da Oposição Democrática em Aveiro. Estavam lá milhares de pessoas que cantaram connosco. O que faltava em condições técnicas sobrava em calor humano e em fraternidade. No dia seguinte, abateu-se uma feroz repressão sobre os participantes quando iam em romagem até à campa de um resistente chamado Mário Sacramento, médico e escritor falecido em 1969. Muitas dessas pessoas iam a cantar canções que nós interpretámos na véspera. Depois vieram os polícias, os cães-polícias e fizeram dezenas de feridos e de detenções. E nós tínhamos orgulho pelo facto de podermos vivermomentos como esses, sentindo já no ar o aroma de um Abril que estava quase a chegar.
Em terras como a Marinha Grande, Ferreira do Alentejo ou Cova da Piedade actuámos cercados de polícia de choque e pela PIDE, sem sequer pensarmos nas consequências desse acto temerário. Depois dormíamos uma ou duas semanas fora de casa, temendo a prisão. Zeca Afonso pernoitava frequantemente em casa de amigos para evitar a prisão de que seria vítima cerca de um ano antes do 25 de Abril de 1974.
[...]
No dia 29 de Março de 1974, os cantores de intervenção juntaram-se no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, para participarem num espectáculo promovido pela Casa da Imprensa para a entrega dos prémios de Imprensa referentes ao ano anterior.
A Comissão de Censura e a Direcção-Geral de Espectáculos mantiveram a iniciativa proibida até depois da hora marcada para o seu ínicio. Apercebendo-se de que havia milhares de pessoas no interior do eífício e no exterior, acabaram por ceder, mantendo-se porém a decisão de não levanteram os "cortes" feitos em em dezenas de canções (era obrigatório enviar, pelo menos com 15 dias de antecedência, os textos das conções programadas para os espectáculos para a Comissão da Censura e pelo menos três meses antes no caso de gravação de um novo disco).
Debateu-se longamente nos bastidores se, naquelas condições, deveria ou não actuar-se. Os cantores presentes entenderam que sim, já que haviatantas pessoas na expectativa. Optaram, entretanto, por dizer ao público, usando uma explicação que ele facilmente compreenderia, que as letras ou pedaços delas que faltavam se tinham perdido na viagem a caminho do Coliseu. Sorrisis e aplausos foram a reacção cúmplice de quem percebia exactamente o que estava a passar-se.
Para fechar o espectáculo só podia haver um nome, o de José Afonso, obviamente. Mas com que canção? Zeca preferia uma com refrão. Talvez "Venham Mais Cinco" ou "O Que Faz Falta" fossem as ideais, mas tinham sofido cortes substanciais. Acabou por optar por "Grândola, Vila Morena", incluída no disco "Cantigas de Maio", gravado em Paris com José Mário Branco, cuja estrofe inicial diz: "Grândola Vila Morena / terra da fraternidade / o povo é quem mais ordena / dentro de ti, ó cidade", sendo, no fundo, um verdadeiro programa político para a democracia.
Milhares de pessoas levantaram-se dos seus lugares e cantaram de braço dado, ombro com ombro, fraternalmente, a canção escrita anos antes por Zeca Afonso para assinalar o aniversário da Sociedade Fraternidade Grandolense, de Grândola.
No meio da assistência encontravam-se oficiais do Movimento das Forças Armadas que acharam ser aquela a canção adequada para funcionar como senha do levantamento militar de 25 de Abril. Assim aconteceu. E foi desse modo que nessa madrugada histórica milhares de pessoas decidiram sair para as ruas e para as praças, já que, se as vozes que se ouviam eram de Zeca Afonso e de outros cantores da resistência, isso queria dizer que os militares que estavam a derrubar o regime só podiam estar do lado da democracia. E felizmente não se enganavam."
José Jorge Letria
in Zeca Afonso e a Malta das Cantigas




Cordiais Cumprimentos
Hilário

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Universidades portuguesas podem converter-se em fundações

Li há pouco n'acabra.net que o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, abriu a possibilidade de as universidades portuguesas se poderem vir a converter em fundações à semelhança do que já acontece noutros países como a Alemanha e a Suécia. Para Mariano Gago as universidades obtêm com esta media “uma maior autonomia na gestão dos recursos humanos, financeiros e patrimoniais”.
Pergunto então a quem me possa esclarecer em que se traduzirá esta alteração no estatuto legal do Ensino Superior. Que vantagens podem daqui advir, e quais as possiveis consequências negativas de tal alteração.
Cordiais Cumprimentos
Hilário

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Escrevo-te de Coimbra

"Ai que prazer, Não cumprir um dever, Ter um livro para ler e não o fazer"

Chega Janeiro e com ele as frequências e os exames. Coimbra muda um pouco nesta altura do ano, mas não perde o seu encanto. Em que outra cidade é que se pode encontrar cafés cheios de gente a estudar?
Seja nas cantinas da Associação, nas diversas bibliotecas de cada faculdade, na livraria Almedina, no Justiça e Paz, na Makro, nos cafés à beira rio, nas pastelarias da baixa, em Celas, nos Olivais, seja onde for... Uma mesa, um banco e logo se vê alguém chegar carregado de sebentas e ocupar esse espacinho. Um ambiente único.
Sendo assim, típico desta altura, para além das perguntas da praxe ("como está a correr?", "quando é o proximo?",...) e dos desabafos do costume ("isto está mau", "o calendário está apertado",...), surge a pergunta, onde é que esta ano se estuda bem. Nesta pergunta está contida uma pequena parte da magia da Cidade dos estudantes. Por isso, pergunto-te a ti:
- Este ano, onde é que é bom estudar?

Saudações Académicas
Adriano

quinta-feira, janeiro 11, 2007

A Velha Academia abre as portas

Neste novo ano a Velha Academia ambiciona continuar a crescer e empreender novos projectos com o intuito de caminhar para os objectivos a que se propôs.
Nesse sentido, a Velha Academia abre as portas aos leitores que para além de acompanharem o que escrevemos gostariam de participar neste blog escrevendo “posts” sobre temas que considerem pertinentes e que nós não falámos. Desse modo a Velha Academia dá-te mais voz, passando a permitir-te que mais do que comentar assuntos coloques os teus próprios temas, abordes assuntos que não falamos, exponhas “em primeira página” o que pensas, e que assim também tu possas propor temas de discussão.
Através desta iniciativa julgamos ter oportunidade de aproveitar melhor o que os nossos leitores nos podem oferecer, acreditando que assim aumentaremos esta equipa e o seu valor.
Para colaborar connosco deves enviar o teu “post” por e-mail para velhacademia@gmail.com. Os “posts” recebidos serão colocados on-line assim que nos for possível fazê-lo.
Deves ainda assinar os “posts” com um pseudónimo ou com o teu nome próprio de modo a que sejas identificado pelos leitores sempre que escreveres para o blog e por forma a vincar a individualidade dos teus textos.


Velha Academia

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Fenix


Caros colegas,

Peço desculpa se o facto de ter passado por uma fase menos boa, em que a minha maneira de ser foi mais intransigente de modo a reforçar as minhas defesas e colmatar a minha maior vulnerabilidade, me levou a tomar uma atitude de que rapidamente me vim a arrepender.
Sou incapaz de vos deixar, de deixar aqueles que ajudei a construir esta Velha Academia (e que nunca me deixaram a meio do que quer que fosse), de deixar esta Velha Academia a meio, mas sobretudo, e desculpem-me também o egoísmo, não sou capaz de me deixar a mim... porque... como disse Pedro Barroso num dos seus poemas, "mesmo fugindo nunca saio de mim".
Acontece todavia, que por vezes parece que tudo nos foge do controlo, e por mais que queiramos agarrar as coisas nada parece encaixar ou fazer sentido...
Mas a vida vive-se por fases... E se fiz as minhas tempestades em copos de água, voltando a mim (e acabamos sempre por voltar a nós), continuo a ser o mesmo que escrevia neste espaço, o mesmo que gostava de "falar" convosco, o mesmo que gostava de acreditar e lutar, e.... manter-me calado, por birra, ou com o propósito de não desvalorizar a minha "palavra de honra" tem sido um tremendo sacrifício.
Assim, em 2007, cabe "arregaçar as mangas, e venha de lá mais vida!".

Cordiais Cumprimentos

Hilário


"Por eso tengo que volver

a tantos sitios venideros

para encontrarme conmigo

y examinarme sin cesar,

sin más testigo que la luna

y luego silbar de alegría

pisando piedras y terrones,

sin más tarea que existir,

sin más familia que el camino."

Pablo Neruda

Fin de mundo (El viento)

quarta-feira, dezembro 06, 2006

E se eles também tivessem deixado de acreditar??










Ary


terça-feira, dezembro 05, 2006

A última "carta" que vos escrevo

Caro colega,

É com bastante tristeza que te anuncio que esta será a última carta que te escrevo, é com igual tristeza que a escrevo.
Nos últimos dias deparei-me com situações inesperadas e que muito me surpreenderam. Levaram-me essas situações a acreditar que durante este tempo que aqui tenho estado contigo nada consegui. Levaram-me essas situações a crer que nada posso mudar. Levaram-me essas situações a desistir de acreditar.
Já não acreditando que algo posso fazer por uma Academia melhor não se justifica que continue a escrever. Direi que perdi a inspiração e a convicção... Direi que certos factos que conheci me obrigaram a deixar de ser ingénuo e utópico. Direi que neste espaço deixei de Ser...

Não quero, no entanto, partir sem agradecer às pessoas que leram "posts" que escrevi, agradecer especialmente àqueles que comigo "conversaram", e deixar-vos um forte abraço. Nomeadamente ao Gonçalo, a uma colega anónima, ao Jack The Ripper, e a um colega anónimo. Quero ainda pedir desculpa a estes dois últimos por lhes ter "puxado as orelhas" quando uma discussão me pareceu tomar rumos que não eram por mim desejados.

Quero também deixar aos que comigo edificaram este espaço um "Muito Obrigado" enorme, pois deram-me oportunidade de viver algo intensamente, e de acreditar, apesar de essa esperança ter sido efémera, e destruída pela realidade "lá de fora".



Convosco cresci...

"[Já]Não me indigno, porque a indignação é para os fortes; [Já] não me resigno, porque a resignação é para os nobres; [Já] não me calo, porque o silêncio é para os grandes. E eu não sou forte, nem nobre, nem grande. Sofro e sonho. Queixo-me porque sou fraco e, porque sou artista, entretenho-me a tecer musicais as minhas queixas e a arranjar meus sonhos conforme me parece melhor a minha ideia de os achar belos.

Só lamento o não ser criança, para que pudesse crer nos meus sonhos, o não ser doido para que pudesse afastar da alma de todos os que me cercam,

Tomar o sonho por real, viver demasiado os sonhos deu-me este espinho à rosa falsa da minha sonhada vida: que nem os sonhos me agradam, porque lhes acho defeitos."

Fernando Pessoa

Cordiais Cumprimentos
Hilário



"When everything's made to be broken
I just want you to know who I am"

Goo Goo Dolls

segunda-feira, dezembro 04, 2006

E tu, quantos votos vales?

Em Coimbra, entre Junho e Novembro/Dezembro, as pessoas são avaliadas em votos. Não é por valores, não é por serem bonitas ou feias, por serem de esquerda ou direita, honestas ou crápulas, boas ou más. Só votos.
-«Vou tomar café com o Zé, de Direito»
-«A sério? Porquê? Ele é fixe?»
-«Não sei, mas vale 70votos na Faculdade dele. E conhece o Joaquim que vale mais outros tantos»
-«Ah, então fazes bem. Eu vou sair com a Maria, de Eng. Química.»
-«Quantos votos vale ela?»
-«Não muitos... Talvez o dela e o da melhor amiga...»
-«Ah, então porque é que vais gastar dinheiro?»

Quem não vale votos não vale nada. E a Academia, valerá alguma coisa, assim?



Zeca

quinta-feira, novembro 30, 2006

Vocês lutam pela conquista do poder. Nós.... Por valores e tradições.

Um dia Adriano emprestou-me um dos seus livros preferidos. Confesso que não o li todo, mas voltarei a tentar. Mas há uma frase nesse livro que Adriano, pelo menos numa ocasião, citou e hoje deixo-a aqui:

"Vocês lutam pela conquista do poder. Nós pela democracia pela liberdade e pela justiça. Mesmo que vocês consigam vencer o poder, nós continuaremos a lutar pela democracia, pela liberdade e pela justiça".

Sub-Comandante Marcos


Cordiais Cumprimentos
Hilário

quarta-feira, novembro 29, 2006

O candidato Capa Negra

Corria o ano de mil novecentos e troca o passo, e, na velha academia coimbrã, era novamente altura de ir a votos e de escolher um novo líder, pois o anterior não se queria voltar a candidatar.
Capa Negra, um sujeito discreto, meio desconhecido lá da academia, a princípio não sabia, mas depois de muito pensar, lá se decidiu, "Vou lutar! Vou-me candidatar".
Os outros que a par dele se candidataram, a candidatura já há muito estava decidida. Apesar de não saberem bem para que iam, ficava muito bem no curriculum, e não havia nada para pensar, era mesmo para avançar! Sem dúvidas, sem medos ou receios, sem ideias nem ideais, com meios mas sem mais, e até um havia que nem sabia ler nem escrever.
Eram eles o Rosinha, o Laranjinha, o gajo das ferramentas, cujo nome não me consigo lembrar, e um outro qualquer coisa Partido, mas este último não era o candidato mais popular.
Todos eles sabiam já há bastante tempo que se iriam por esta altura encontrar, e quando viram o Capa Negra avançar, troçaram em coro e riram até se fartar.
Capa Negra ignorou isso, avançou em linha recta desde o início, estabeleceu a meta que com o seu projecto pretendia alcançar, e segundo o que acreditava, essa meta coincidia exactamente com o que aquela academia necessitava.
Ao contrário, os outros candidatos explicavam a todos os que passavam, de forma tão erudita que nem sabiam o que diziam, e tão chata que deixavam qualquer pessoa danada, que os seus projectos eram tão importantes como quase nada. O que era bom era que eles para lá fossem, isso é que interessava, e quanto à academia e aos estudantes... mas quem é que com isso ainda se importava? Votem em mim, eu dou-vos um aperto de mão, e um dia destes, quando for ministro, mando-vos um abraço pela televisão.
Capa Negra escolheu para os respectivos cargos as pessoas que moral e intelectualmente mais valiam. Os outros candidatos escolheram as pessoas que mais votos lhes valiam.
Chegada o dia das eleições, Capa Negra reuniu-se com os amigos em sua casa. Não confessava, mas acreditava ainda num milagre tão grande como os estudantes escolherem o melhor para eles.
Os outros candidatos reuniram-se num restaurante para comemorar.
Capa Negra ficou em último lugar, ganhou um candidato que oferecia mais brindes do que uma empresa farmacêutica aos amigos que pusessem pessoal a votar.
Na Rádio Universidade de Coimbra, quando foi entrevistado, Capa Negra confessou que estava desiludido pelo facto dos estudantes não terem no seu projecto acreditado, e que ainda assim muita fé neles e nesta academia depositava.
O homem da noite, o vencedor das eleições, já embriagado ao ser entrevistado, afirmou que desde sempre soubera qua iria ganhar as eleições, e que ia cumprir o que tinha prometido, assim que tomasse posse. Na sala de estudo seria um varão erguido, e vários sofás lá seriam colocados, e a sala seria após as obras baptizada, e levaria uma placa à entrada onde se iria ler. "Aqui, onde antes se estudava, foi para os amigos do presidente implantada uma sala para a cowboiada".




Hilário

sábado, novembro 25, 2006

Tomada da Bastilha

Faltam pouco mais de cinco minutos para as doze badaladas da Cabra darem inicio a mais uma celebração da Tomada da Bastilha.
A tradição de celebrar esta data não se perdeu, mas os acontecimentos que deram origem a esta celebração vão caindo no esquecimento. Assim, cabe deixar aqui a história da Tomada da Bastilha:
"No livro "Coimbra de Capa e Batina" de Carminé Nobre vem a seguinte descrição dos acontecimentos:"No rés do chão do edifício, onde se encontra a Associação Académica, estava miseravelmente instalada a Casa dos Estudantes. Duas salas e pouco mais. No primeiro andar, amplo e luxuoso, estava o Clube dos Lentes onde os mestres, instalados em confortáveis sofás, jogavam as aristocráticas partidas de voltarete.
Vinham de longe as diligências realizadas pelos estudantes junto da universidade, no sentido de instalar convenientemente a academia universitária.Baldadamente, pois embora se reconhecesse a justiça das reclamações apresentadas, surgiam sempre dificuldades na sua realização.Ansiavam os estudantes da época por uma sede condigna, onde pudessem receber professores, literatos e homens de ciência. Para tanto, desejavam possuir uma biblioteca, uma sala de conferências, de jogos, etc., mas o seu brado, apesar de justo, não encontrou repetidos ecos para lá da Porta Férrea.Resolveram, então, alguns estudantes da época, agir pelos seus próprios meios, e num grupo deles surgiu uma ideia. Uma luminosa ideia, que tempos depois se transformaria numa realidade para prestígio da Briosa: tomar de assalto o Clube dos Lentes e instalar nas suas salas, a sede da Associação Académica de Coimbra, dando assim realização a uma velha aspiração da Academia.Eram quarenta os conjurados, que cegamente obedeciam ao comité central, constituído pelos estudantes Fernandes Martins, Paulo Evaristo Alves (Padre Paulo) de Direito, Pompeu Cardoso, Augusto da Fonseca (o Passarinho) e João Rocha de Medicina.Em sucessivas reuniões, o comité central foi afinando o plano de assalto. Uma delas realizou-se na Torre de Anto onde a nostalgia de António Nobre pairava ainda em fortes traços de lirismo. Além do comité central, havia os chefes de grupo de inteira confiança, os quais por sua vez, recrutariam os elementos sobre que agiriam directamente.Uma noite, à luz mortiça de um lampião de azeite, velha relíquia de antigas gerações, o comité central deliberou, definitivamente, fazer o assalto no primeiro dia de Dezembro, comemorando o feito histórico de igual data, em 1640. Porém, um dia depois chegou ao conhecimento do comité a notícia, fundamentada ou não, de que a Reitoria apesar de todo o sigilo havido nas diligências já realizadas, tinha conhecimento do que pretendia fazer-se, e procurava evitá-lo, inclusivamente auxiliada pela intervenção da força pública.Uma reunião de urgência levou o comité revolucionário a precaver-se contra qualquer surpresa da Universidade e, assim, deliberou antecipar o movimento e marcar a sua realização para a madrugada de 25 de Novembro.
Chegou a noite. O bairro latino afogava-se em penumbras. Numa casa antiga e em volta de uma mesa escalavrada, reuniu pela última vez o comité. Nessa noite, o Clube dos Lentes deixaria de existir na casa da Rua Larga. Por volta das onze horas estavam as forças reunidas e é curioso notar que os conjurados não conheciam o comité central. Todos os juramentos de fidelidade à causa eram feitos ao chefe de grupo, que, por sua vez, os transmitiam. Sobre a madrugada, frigidíssima e chuvosa, foi escalonado um grupo para assaltar a Torre da Universidade e repicar os sinos festivamente, logo que um morteiro lhe anunciasse que o Clube dos Lentes estava nas mãos da Velha Briosa.Ao partir, receberam as chaves falsas que lhes abriam a porta da Torre.
A chuva caía em bátegas, e como se receasse o êxito desta diligência, que tinha de principiar pelo escalamento da Porta de Minerva, logo Augusto Fonseca, tranquilo e sorridente, destrui essa preocupação, afirmando: "a Torre é connosco". Vem a propósito dizer, que a agitação política daquela época, estendia a sua paixão até aos espíritos mais humildes. E foi certamente por isso, que o serralheiro Alfredo Garoto, com oficina na rua das Covas, ao ser peitado em confidência para fazer as chaves falsas, se apercebeu de que alguma coisa de muito sério se ia passar. E nesta convicção, interrogou em meia voz:-É contra os talassas? Se é, faço tudo de graça.Não foi contra os talassas, mas as chaves ainda hoje estão em dívida.Às 6 e 45 da manhã, a explosão de um morteiro sobressaltou a cidade e os estudantes que se encontravam na Torre ficaram assegurados que o assalto estava consumado.Repicaram os sinos e logo uma girândola de 101 tiros, lançada das varandas do antigo Clube dos Lentes, tornado naquele momento Associação Académica de Coimbra, chamou a Academia à realidade da conquista.Acorreram os estudantes de todos os lados da cidade. Nas primeiras impressões Coimbra julgou tratar-se de um movimento político.O dia 25 foi de festa rija para a Academia. Ao rasar da noite, partiu da Alta com destino à Baixa - a via sacra do estudante - uma marcha luminosa (hoje recordada como o cortejo dos archotes) com milhares de pessoas, pois a cidade associou-se ao regozijo à Briosa. E quando outra madrugada rompeu ainda no bairro latino se ouvia o grito heróico da conquista:- Viva a Academia!Era ao tempo Presidente da República, o grande tribuna e eminente cidadão Dr. António José de Almeida, Presidente do Concelho Dr. Álvaro de Castro, e Ministro da Instrução Dr. Júlio Dantes, a quem a Academia enviou a comunicação telegráfica de que se encontrava instalada na sua nova sede, manifestando também, o seu mais ardente desejo na constante prosperidade de Portugal. Estas três individualidades, desconhecendo o que se passava e julgando, possivelmente que a Academia de Coimbra se instalara pacificamente e com conhecimento da Universidade na sua nova sede, responderam aos cumprimentos recebidos, retribuindo calorosamente e desejando todas as felicidades à esperançosa Academia de Coimbra: "A irreverência foi completa." "
Este texto foi retirado do antigo site da AAC


Velha Academia

terça-feira, novembro 21, 2006

“Há sempre nas gavetas escritores secretos” – Concurso de Poesia

A Velha Academia contou hoje mil visitantes. Como prometido, e porque tal acontecimento merece comemoração, a Velha Academia abre hoje uma vertente cultural dando azo a uma pretensão que tínhamos desde a criação desde blog.

Lançamos hoje então um concurso de poesia com o intuito de tentar descobrir os poetas secretos desta Academia.

Os vossos poemas devem ser enviados para o e-mail velhacademia@gmail.com e podem ser assinados ou anónimos.

O prazo para envio dos poemas termina no dia 20/02/2007. O resultado do concurso será disponibilizado no dia 3/03/2007.

Os três melhores poemas serão publicados neste blog, cada um num post próprio, e por ordem decrescente.

O júri que avalia os poemas recebidos será constituído por nós que escrevemos para o Velha Academia, pelo que os critérios de escolha dos melhores poemas serão puramente subjectivos.

Caso sejam recebidos entre vinte e cinco e cinquenta poemas, todos serão impressos, fotocopiados e encadernados, se os seus autores expressamente o permitirem. O objectivo será fazer cinco livros de poesia (iguais), com os poemas dos estudantes da nossa Academia. Esses livros serão deixados por cinco locais de Coimbra e farão parte do projecto Book Crossing.

Se não forem recebidos pelo menos vinte e cinco poemas, apenas se publicarão os três melhores no blog.

Caso sejam recebidos mais de cinquenta, serão colocados no livro os cinquenta melhores trabalhos (sendo sempre necessário que os seus autores permitam expressamente a sua reprodução).

Contudo, reservamo-nos ao direito de alterar as regras acima enunciadas, nomeadamente esta última, uma vez que faremos todos os esforços para colocar todos os poemas recebidos nos referidos livros, não sendo para já certo que o consigamos fazer.


Velha Academia

Manifestações

As manifestações são uma medida de protesto que causam controvérsia entre nós estudantes. As opiniões dividem-se bastante. Alguns defendem que as manifestações são uma forma de protesto obsoleta e que já não são susceptíveis de através delas se conseguir obter respostas às nossas reivindicações.
Outros concordam com as manifestações como forma de protesto, porém, em face da fraca adesão dos estudantes às últimas manifestações, depreendem que nada se pode conseguir, uma vez que não nos manifestamos a uma só voz, e que tão poucas são as vozes que se levantam.
Por último existem aqueles, como eu, que entendem que as manifestações são o meio idóneo para demonstrar o descontentamento dos estudantes, que apesar da fraca adesão do todo continuam a lutar pelas causas dos estudantes aderindo às manifestações. Haverá, por ventura, quem diga que são os que participam em pequenas manifestações insignificantes que denigrem o nome da nossa Academia, e que contribuem para a suposta má imagem dos estudantes perante a sociedade civil.

Assim sendo, tratarei de aqui explicar aquilo que penso, esperando que quem discorda de mim também me diga porque discorda e o que pensa sobre isto para que eu pense se estou errado, e onde posso estar errado.

A meu ver as manifestações são o modo adequado para o povo manifestar o seu descontentamento perante certas situações com as quais discorda de forma veemente. As classes profissionais manifestam-se… Os habitantes de certas localidades manifestam-se… Os doentes de certos centros de saúde manifestam-se… etc.

Dir-me-ão então, com toda a razão, que poucas são as manifestações que alcançam os seus propósitos. Penso, no entanto, que a nível académico não se viu nos últimos anos uma manifestação digna desse nome, excepto uma manifestação nacional de estudantes que, salvo erro em 2003, levou a Assembleia da República milhares de estudantes de várias Universidades, num protesto contra o desmedido aumento de propinas que na altura era eminente. O montante de propinas efectivamente aumentou, mas, se não estou errado, algumas conquistas foram feitas, se bem me recordo, nomeadamente ao nível da Acção Social.

Depreendo então que os nossos gritos nas manifestações não sejam ouvidos porque somos tão poucos (em relação ao universo em que estamos inseridos) que realmente não teria lógica sermos considerados representativos dos estudantes.

Acredito piamente que se as manifestações contassem com um elevado número de estudantes seria impossível sermos ignorados.

Os sucessivos fracassos das consecutivas manifestações podem desmotivar-nos. Será, por hipótese, esse o propósito de quem nos governa e nos ignora. Não reagir perante as nossas demonstrações de descontentamento face às mudanças que nos impingem, e vencerem-nos pelo cansaço. O plano funciona. É realmente desmotivante… Não reagir vai-nos calando. Mas se assim não fosse, e quando ignorando-nos fizerem elevar as nossas vozes e o número de manifestantes não acredito que nos possam ignorar. É por isso que participo nas manifestações cujas reivindicações me parecem justas, sozinho ou com amigos, tenha ou não alguma coisa para fazer além disso, e assim tranquilizo a minha consciência, ciente de que não baixei os braços quando achei que não o devia fazer.

Quanto à opinião de que as manifestações são um meio obsoleto de protesto e de reivindicação… Discordo. Concordo que não são um novo meio de protesto, já se encontra implementado… Mas não esgotado… Se as manifestações atingirem dimensões consideráveis terão de ser levadas em linha de conta.

Quanto aqueles que concordando com a causa não aderem ao protesto porque ele não será significativo, sugiro que participem, e que como eu vão esperando que mais estudantes venham. Não pensem: “Serei apenas mais um”, pensem apenas: “Eu serei mais um, darei o meu contributo, aumentarei o tom do protesto”, e não se deixem frustrar perante mil batalhas perdidas, ou todos perderemos as sucessivas guerras.

Esta é a minha maneira de pensar. Diz-me o que pensas, conversemos…


Cordiais Cumprimentos

Hilário

segunda-feira, novembro 20, 2006

Serão a FAE (Frente de Acção Estudantil) e o Tu És a AAC novas esperanças para a nossa Academia?

Tenho reparado no trabalho de dois projectos, a “FAE” e o “Tu És a AAC” e fico contente por ver gente empenhada em causas nesta Academia. O que me pergunto é se estes projectos serão novas esperanças para o ressurgimento de uma Academia forte, ou se pelo contrário estarão condenadas a cair por si.

A meu ver, é sempre positivo o aparecimento de novos projectos, de novas convicções, e de novas correntes, independentemente de concordarmos com elas. Quanto mais não seja porque nos fazem pensar.

No entanto, esta apatia geral que se nota em nós por tudo o que nos faça pensar será, em minha opinião, o principal obstáculo que estes projectos se depararão. Não sei o que se pode fazer para contrariar essa tendência, mas aqui no meu cantinho, com a minha “pena”, humildemente, e consciente da minha insignificância, vou tentando ajudar a alcançar esse objectivo.

Pelo que me parece, para além de informar, e consciencializar, estes projectos pretendem também mobilizar, e através disso unir e fortificar a Academia. Não me parece que essa tarefa seja fácil. Vejo-nos demasiado presos ao nada. Agarrados ao que não nos obriga a pensar e ao que nos permite deleitar a nossa mente com a inércia. Todavia, acredito que estejamos a caminhar no caminho certo. Se conseguirmos não baixar os braços e não ceder perante a frustração de não ver por vezes resultados do que fazemos naquele sentido, acredito que comecemos a vencer algumas batalhas. E a verdade é que ainda não vi ninguém baixar os braços. Vejo-os levantarem-se.

Aqui fica o meu reconhecimento…

Se algum leitor fizer parte de algum dos projectos que referi e me puder informar mais sobre os objectivos e ideias de cada um deles, agradecia que o fizesse.

Cordiais Cumprimentos

Hilário

domingo, novembro 19, 2006

A caminho das mil visitas.

O NOSSO blog está a caminho das mil visitas. Celebrámos a chegada de cada um de vocês, e ao atingirmos mil visitas em quatro meses, ultrapassámos todas as nossas expectativas aquando da criação do blog.
Assim, o nosso contentamento em face desta meta, que esperamos atingir em breve, fez-nos pensar que as mil visitas mereciam uma celebração maior. Nesse sentido, pensámos em abrir uma vertente cultural neste blog no dia em que essa meta for atingida. Saberás tudo nesse dia.
Aproveitamos desde já para agradecer aos leitores da Velha Academia e aos que participam nas nossas "conversas".


Com os melhores cumprimentos,
Velha Academia
Peritoneal Mesothelioma
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